quinta-feira, 29 de maio de 2008

Como diz o D2: "Planta o amor pra colher o bem!"

Há dias e há dias, não tem jeito.

Tem dias em que uma bela florzinha, banhada pelo orvalho, reluzente à luz do sol pode ser uma ameaça mortal ao seu humor. Você então arranca a maldita, esmaga, pica em milhões de pedaços, táca fogo e fica em volta arfando, bufando de raiva. Não tem jeito, acontece. E não me olhe torto, com aquele sorrisinho no rosto, de como quem diz "Prá quê tudo isso, éin?". Capaz de sobrar pra você!

Tem outros que tudo pode acontecer, e nada estraga o seu humor, como topada na cama, chinelo perdido, piso frio, falta de luz, banho gelado, falta de pasta de dente, leite azedo, louça suja, carro enguiçado, ônibus lotado, carteira roubada, chefe irritado, trabalho atrasado, almoço frio, picada de abelha, queda da escada, horas extras não remuneradas, ônibus lotado E atrasado, geladeira vazia, falta d'água, cama quebrada, vizinho barulhento, insônia, mulher com TPM, que você continua cantarolando, o tempo todo:

I'm singing in the rain
Just singin' in the rain
What a glorious feeling
I'm happy again
I'm laughing at clouds
So dark up above
The sun's in my heart
And I'm ready for love
Let the stormy clouds chase
Everyone from the place
Come on with the rain
I have a smile on my face
I walk down the lane
With a happy refrain
Just Singin', singin' in the rain
Dancing in the rain
I'm happy again
I'm singin' and dancin' in the rain
I'm dancin' and singin' in the rain

Com certeza, todos buscam viver mais dias cantando na chuva do que destroçando florzinhas, porém essa é uma realidade que nos acompanha demais, principalmente nesses tempos em que a nossa sociedade anda cada vez mais sinistra, perversa e obscura, e isso realmente me assusta. No dia em que cantamos na chuva, criamos obras de arte. Atraímos o bem, iluminamos o dia de alguém. No dia em que buscamos descarregar nossas frustrações, não são exatamente florzinhas que destroçamos. Esses dias são perigosos, pois podemos estragar o dia daqueles à nossa volta, brigamos, batemos ou chegamos ao cúmulo de jogar crianças indefesas pela janela. A realidade é nua e crua. Trate de engolir o choro e digeri-lo, pois isso tudo só depende de nós. Da nossa vontade, do caminho que vamos tomar, do quão são somos ou estamos. Preste atenção. Olhe em volta. Há sempre um motivo pra cantar, pois mais escuro que esteja.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Testando, um dois três... Ssssssssssssssssom!

Vâmo tentando, um dia fica bom...
Sensações II
Viriatto molhava o pão no café-com-leite. Um hábito detestável por muitos, mas amado por Ana Lúcia. Quando subiam a rua, cedo pela manhã, em direção à padaria, Ana Lúcia já imaginava aquele pão francês encharcado de leite e café amargo. Sonhava com aquilo, tinha prazer com aquela imagem, mas nunca tivera coragem de contar ao marido. O que ele pensaria dela? Uma tara estranha, diriam, mas funcionava muito bem para Ana Lúcia, melhor que aqueles acessórios que se compra em lojas especializadas.
Já não formavam um casal jovem, beiravam os quarenta, e sua paixão havia sossegado, dando espaço a uma vida tranqüila, sem aborrecimentos e sem acontecimentos novos. Ana Lúcia sempre quis ser mãe, mas Viriatto nunca topara, pois dizia que o dinheiro que ganhava na repartição era muito pouco pra sustentar um bebê, porém mantinha uma vasta e variada coleção de miniaturas de aviões caríssimos no escritório de casa. Ele passava o tempo que dispunha livre montando seus aeromodelos, e ela lendo e assistindo TV. Ana Lúcia fazia serviço comunitário. Ajudava a manter uma creche que ficava a caminho do serviço do marido. A verdade é que, por muitas vezes, Ana Lucia sentia-se infeliz. Sempre que passava por isso, trabalhava mais tempo na creche, porém aquilo se tornava cada vez mais comum e, em um belo dia, decidiu tomar alguma atitude. Ligou para o marido e pediu que ele não a buscasse hoje, pois iria demorar mais tempo no trabalho, porém voltou mais cedo pra casa.
Preparou um belo jantar. A grande mesa da sala de jantar deu lugar à mesinha no terraço. Preparou o lugar com flores e velas. Jogou lençóis vermelhos sobre o sofá da sala de estar, tomou um banho demorado, vestiu seu melhor vestido, a melhor lingerie, perfumou-se. Mais ou menos no horário normal, Viriatto chegou a casa. Abriu a porta de casa e viu, sob seus pés, uma folha de ofício com muitos corações vermelhos desenhados e, escrito com uma rebuscada letra “SUBA!”. Depôs a pasta de couro marrom sobre o aparador, largou as chaves e subiu. Encontrou Ana Lúcia maravilhosa, sentada no sofá, exibindo um lindo par de coxas sob o vestido transparente. “O que é isso?”, perguntou atônito. Ela, por sua vez, não respondeu. Beijou apaixonadamente o marido, que logo abriu um sorriso. Sentaram-se à pequena mesa, e saciaram a fome. Feito isso, Ana Lúcia tomou o marido pela mão e o levou ao banheiro, onde uma banheira morna e perfumada os esperava. Trocavam beijos e carícias, riam alegremente. Dado momento, ela ergueu-se e saiu da banheira. Pediu que, em alguns minutos, o encontrasse no terraço. Viriatto, impressionado e encantando com tudo aquilo, atendeu prontamente o pedido da esposa. Aguardou alguns minutos e subiu de roupão. Lá estava Ana Lúcia. Nua, sentada à frente da mesa. Sobre o móvel um bule de café, uma jarra de leite e uma cesta de pães. Ele pouca atenção deu à refeição servida, estava saciado, e partiu em direção à esposa, que estava linda. Ela o repreendeu com carinho e pediu que sentasse e tomasse o café. Contrariado ele atendeu. Serviu um pouco de café preto e bebeu, partindo para nova investida. Ana Lúcia o interrompeu novamente, perguntando: “Não quer leite e pão, meu amor?”. Entre urros e sussurros ele disse não.
Ana Lúcia aos prantos, vestida só com seu roupão, deixou o apartamento. Vagou pelas redondezas durante toda a perigosa madrugada. Cansada de tanto caminhar e chorar, perto das seis da manhã, resolveu parar em um boteco qualquer, às redondezas de um posto de gasolina. Procurou uma mesa afastada, sentou-se. A certa altura, uma porção de caminhoneiros tentavam se aproveitar dela. O dono do boteco já não conseguia mais conter os ânimos, quando Viriatto irrompe o tumulto, gritando e socando alguns. Arrancou a esposa de dentro do bar a muito custo e a levou de volta pra casa, sem pronunciarem uma só palavra.
Viriatto e Ana Lucia não trabalharam no dia seguinte. Perto das três da tarde, ele a despertou com um beijo. Nos braços trazia uma larga bandeja de café da manhã, que consumiram juntos à cama. Conversaram muito, trocaram carícias e então ele molhou o pão no café com leite.
Depois daquele dia, Viriatto nunca mais tocou na coleção de aeromodelos, e pelo menos três vezes na semana tomam café da manhã no quarto.

Theobaldo e Siadora

Eu e Dona Genô estivemos em São Paulo neste fim de semana, para encontrar Motherns de todo o país, tendo como desculpa o aniversário da Mari da Greice, que por sinal estava ótimo. Gente bonita, alegre e feliz, com lindas crianças travessas. Foi ótimo! Poucas vezes nos divertimos tanto! Eu me diverti tanto que quase acabei no hospital com uma crise de bronquite, mas tudo bem. Faz parte.

Duas figurinhas marcaram muito esta viagem. O Theobaldo e a Siadora.

O Pequeno Principe Theobaldo e a Malucona Siadora.

Theobaldo faz jus à alcunha. Reina soberano em seus domínios. Acho esse rapaz muito interessante. Tem uma paixão incomum pela música. É multi instrumentista. Toca desde violão a placas de carros, passando por maracas, tambores, chocalhos e toda a sorte de instrumentos de percussão. Mas vocês acham que o talento dele pára por aí? Enganam-se. Além de toda essa aptidão e desenvoltura musical ele é um ótimo produtor. Sempre atento aos detalhes de cada cenário, ele cobra duramente os músicos convidados, e não tolera erros, por menores que sejam. É um detalhista. No final, fica atento às palmas, para que possa fazer a avaliação de sua apresentação. Já falei que ele canta também? Pois é! Não é demais esse carinha?

A Malucona Siadora é demais! Acho que ela ainda vai dar muito trabalho, principalmente se começar a brincar com os meninos. Papai e mamãe que preparem um bom estoque de mercúrio, mertiolate e gaze, pois ela vai render muitos cabelos brancos e noites mal dormidas. Acredito que ela vai adorar esportes radicais, como escaladas, saltos de pára-quedas, bungee jumping, velocidade. A guria é um estouro em matéria de audácia, resistência e energia. Definitivamente não parece aquele mineirinho clássico do folclore nacional, mas toda essa disposição tem um contraponto muito interessante. Ela é um doce! É carinhosa e adora um carinho. É apaixonante! Eu estou apaixonado por ela! Acho bom o papai guardar um facão ao lado da caixa de primeiros-socorros...

Que Papai-do-Céu seja generoso com esse que escreve, pois essas duas jóias já guardam um grande espaço no meu coração...

Testando, um dois três... Ssssssssssssssssom!

Tô fazendo um teste... Escrevi um pequeno conto, e gostaria de saber a opinião daqueles que lêem o meu blog. Ainda hoje teremos mais um post, sobre o principal assunto deste espaço. AGUARDEM!
Sensações
- Não! - Gritou João Paulo.

Acabara de virar uma xícara do seu delicioso café sobre o notebook novinho que, entre resmungos e estalidos apagou-se. Era tarde demais. Iria perder tudo. Tratou erguer o aparelho de forma que todo aquele líquido quente escorresse pelos seus pequenos orifícios. João Paulo era um homem diferente, desapegado a bens materiais, muito ligado às pequenas coisas da vida, mas estava aflito. Havia investido cerca de quatro mil reais no aparelho. O livro que estivera trabalhando durante os últimos seis meses e o backup estavam nele. Qualquer um cairia profunda tristeza e depressão criativa, mas se alguém observasse a cena de longe, viria que João Paulo permanecia sentado. Num rápido movimento ele erguera a caída xícara negra de porcelana e nela aparava o café derramado.

Certo que nenhuma gota mais sairia pela conexão USB, jogou o computador com força sobre a mesa e sorveu um gole do café, sem se importar com pêlos, restos de pele, pó e toda a sorte de coisas nojentas que se prolifera de "A" à "Z" no seu teclado. Cuspiu. Estava morno. Jogou a xícara pela janela e o notebook no chão. Passou a pisoteá-lo com raiva. Nunca mais iria sentir o sabor daquele que fora o mais perfeito café que preparara. Caiu ao chão, chorando.

Passados alguns minutos, ouviu algo bater à porta. Eram batidas duras, de algum objeto de consistência firme. Fazia frio naquela época. Seu apartamento era no quarto andar, não tinha elevador. Não recebia visitas. Mal saía de casa. Ergueu-se secando as lágrimas e atendeu ao chamado. Abriu a porta.

Era a vizinha do primeiro andar. Ela era linda. Morena de olhos azuis, uma Deusa. Trazia na mão esquerda a xícara preta que jogara pela janela e na mão direita outra xícara, branca, com algum líquido fumegante. Ela não falava, quase gritava. Dizia que xícara havia caído sobre um balde de roupas brancas que iria começar a lavar e agora estavam manchadas. João Paulo estava abatido, debilitado. Ouvia os xingamentos e se encolhia, cada vez mais, quando aquilo aconteceu. Fora tomado por uma sensação diferente, semelhante à que vivera há alguns minutos. Seu coração palpitava, o sangue recebera uma injeção generosa de adrenalina, sua garganta secou, começou a ter a visão alterada. Ele alinhou o corpo, respirou fundo, olhou no fundo dos olhos azuis da vizinha e fez. Com as mãos suadas, agarrou firmemente a xícara e sorveu um longo gole do café da xícara branca. Foi tomado por um arrepio que lhe subiu da lombar ao pescoço, fazendo seu corpo tremer, num reflexo do prazer alcançado.

Acordou algumas horas depois, com um galo da cabeça, a xícara preta partida ao seu lado e uma nova história para contar.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

África do Sul de Bombachas!

Cuidado gente...

Lembram das minhas considerações sobre futebol, há pouco tempo atrás? Pois é, hoje volto a falar de futebol, porém de um problema que INICIA com o futebol.

Todos sabem do bairrismo gaúcho. É fato! Eu mesmo sou MUITO bairrista, porém como tudo na vida, há limites. Quando feito de forma saudável, de forma que não ofenda ou fira ninguém, é bonito e/ou engraçado. É uma forma de blindar nossa cultura que, se não é a mais arraigada entre os povos brasileiros, é uma das primeiras.

Eu tenho muitas preocupações quanto ao bairrismo destrutivo. O gaúcho consegue ser bairrista no Rio Grande. A melhor cidade, a terra disso, a terra daquilo, campeão disso ou daquilo. Dá briga, bate boca, socos e pontapés. O gaúcho porto-alegrense consegue ser bairrista dentro da cidade, disputando atenções e criando uma "guerrinha" desnecessária. Aí você me pergunta: onde entra o futebol?

No Rio Grande, muitos não gostam se você não torce por azuis ou vermelhos. Em Porto Alegre, não admitem. Ou você é azul e anti-vermelho ou vermelho e anti-azul. Aqui, o jornalista que assumir sua preferência clubística é crucificado. Se a governadora ou o prefeito ou o diretor da escola ou o dono da padaria faz "merda", é por que é azul ou vermelho. Essa intolerância e discriminação é tão absurda quanto a atitude do sr. Dick Advocaat, o holandês técnico do Zenit, time russo, campeão da Copa da UEFA, que não admite negros no seu time. Estaríamos nós criando um novo tipo de racismo? A algum tempo um torcedor azul foi morto por torcedores vermelhos por desfilar com orgulho com sua camiseta. O inverso também é comum.

Como vier numa época em que mais precisamos contar uns com os outros com tamanha intolerância?

Pode parecer uma preocupação genérica, mas sempre imagino como o maior problema global poderia afetar a minha casa, minha família. É como se ativasse um "zoom" pra dentro do problema. Criamos discussões e debates sobre alguns assuntos, muitas vezes inflamados, porém sempre com resultados positivos.

Sou intolerante à intolerância!

Não quero ver meu filho sendo discriminado na rua. Não quero que ele sofra com isso. Imaginem, no devaneio mais louco, médicos para azuis e vermelhos, bairros para azuis e vermelhos, leis, políticos, polícia, professores...

"Meu senhor, o senhor não pode trazer o seu filho azul aqui, pois esse hospital é pra vermelhos! Saia já daqui antes que eu chame a segurança!"

"Soldado Da Silva, encana esse vermelho aí! Ninguém manda ficar passeando aqui na área azul! CÁGA-LHE A PAU!"

Não dá gente! É o Apartheid Colorido, a África do Sul de Bombachas!

Acho que vou começar a torcer pelo vôlei...


terça-feira, 13 de maio de 2008

Caiu a ficha!

Estamos praticamente na metade de maio. Pelas nossas contas e conversas, temos aí uns trinta dias para a abertura oficial dos trabalhos. Está tudo correndo bem até agora. O suplento sendo administrado corretamente, Dona Genô trabalhando forte na hidro, as "regras" vindo normalmente. O ambiente está pronto. Mas...

Conversamos neste fim de semana, sobre a preparação, e foi quando o choque da realidade atingiu a Dona Genô, ela parou. Imóvel, silenciosa. Bateu o medo e ela chorou. Acredito no choro, acredito no sentimento, mas isso não é nada que um pouco de carinho e atenção não resolva. Estamos nos preparando a muito tempo, e pra mim também é assustador. É a responsabilidade, é a mudança. Não posso comparar, pois são perspectivas diferentes, e para ela muito mais radicais, mas são fortes mudanças. O medo existe, sempre existiu, mas a nossa vontade é muito mais forte, e vamos enfrentar juntos, como sempre foi.

O mais importante de tudo é que somos mais que um casal. Somos parceiros, companheiros. Desde quando namoramos, destaco na Dona Genô essa capacidade de mobilização. Ela me inspira, me dá força, me anima. Tento fazer de mim um espelho dela. Quero ser eu a fonte inspiradora, reenergizante e animadora nesse momento. Sempre pude contar com ela nos momentos mais difíceis, me amparando e empurrando pra frente, de cabeça erguida. Ela me dá força. Agora, mais do que nunca, é minha vez. Vou estar ao seu lado a todo o momento. Somos dois em um, sempre. Daqui a pouco, seremos três. Seremos família.

Don’t worry, baby. I’m here for you!

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Chamas da Vingança

Escrevendo o post anterior, lembrei de uma história...
Qual era sua brincadeira preferida?
Essa pergunta é muito interessante, se fizermos ela a pessoas de idades diferentes, principalmente se pusermos lado à lado pessoas com significativas diferenças de idade, certo? Minha mãe, por exemplo, a quase sessenta anos atrás fazia bonecas com sabugos de milho, no interior, meu pai caçava rãs e preás com funda (bodoque) para assar ao meio-dia, como diversão, num mato que rodeava a casa da minha vó. Eu andava de bicicleta, jogava bolinhas de gude, etc. A nova geração já é mais "guri de apartamento", gosta de jogar no PC e ficar no MSN, mas vamos deixar eles de fora, dessa vez.
Na minha época era comum ter rivalidades com a gurizada de outras ruas. Sempre saía briga e era um perigo ser pego sozinho quando eles apareciam. Certa vez, eu e o Chucré, amigão da rua, estávamos comendo goiabas numa árvore quando eles apareceram. Eram uns oito, com suas fundas, e todos disparavam contra nós. Perigoso e dolorido, mas, em outra ocasião, retribuímos a gentileza. O fato é que, fora essas rivalidades, tínhamos também vizinhos terríveis.
Pergunte a algum homem se, na sua infância, nunca teve uma bola fatiada por algum vizinho estressado? Ou que nunca levou uns cascudos do pai por quebrar alguma vidraça, do vizinho xarope? Era muito comum isso acontecer. E nós tínhamos no mínimo cinco vizinhos neste seleto grupo. Mas tinha um que era o principal, o mais ativo, o inimigo número um da piazada: o Alemão.
O Alemão usava um largo e espesso bigode. Tinha um campo que ficava ao lado da nossa rua, onde criava alguns animais. A casa dele ficava exatamente na metade da rua, exatamente no meio do espaço delimitado pelas nossas goleiras de tijolo, exatamente onde a bola teimava em cair. Ele tinha grades baixas, nós pulávamos. Ele pôs grades altas, e nós continuávamos pulando. Ele pôs um cachorro grande, nós distraíamos o bicho e pulávamos mesmo assim. Era uma guerra, e ele sempre perdia. Nós sempre flertamos com o perigo, apesar dos protestos e avisos, éramos sempre desafiados e desafiadores.
Tentamos uma vez fazer um tratado de paz. Nós só queríamos jogar bola, e ele não queria que jogássemos na rua. Não tínhamos lugar pra jogar e ele com aquele campo enorme pra meia dúzia de animais. Não podíamos sequer entrar no campo que acabávamos sendo corridos por paus, facões ou tiros de sal. Um dia resolveram fazer uma reunião, entre ele e alguns pais e saiu um acordo. Ele cederia um espaço no campo pra nós. Foi uma festa. Durante algum tempo, a rua ficou tranqüila. Juntamos dinheiro, montamos a goleira, arrumamos o campo e compramos bola nova. Você podia ver um bando de meninos com pás, enxadas, martelos e pregos nas mãos. Passamos até cal pra marcar o campo!
"Quem muito ri, acaba chorando!"
Com o campo numa lindeza só, éramos só alegria. Certo dia, peguei a bola e comecei a chamar um a um dos meus amigos, nas respectivas casas. Fechado o número suficiente, pulamos o muro e, qual foi a nossa surpresa? O velho havia passado o arado no nosso campo, derrubado nossas goleiras e tinha feito uma pilha enorme de lenha onde era o nosso banco de reservas. Imagine a frustração, depois de tanto trabalho? Dava pra imaginar a cara dele, rindo. Ele havia nos pregado uma peça. Tinha se vingado! Desgraçado!
Mas o mundo dá voltas, né?
Passado algum tempo, já com nossos jogos de volta à rua e toda a confusão retomada, decidimos voltar mais uma vez ao campo, pra conversar sob as árvores, num fim de tarde. No local onde era o nosso banco de reservas ainda estava a pilha de lenha. Um dos guris portava um isqueiro. Era só juntar um mais um. A desforra.
Ninguém nunca mais se esqueceu daquela noite, pois parecia dia. Tacamos fogo naquela pilha de lenha. Naturalmente, fomos corridos a facão e porrete, tomamos sermão até não querer mais, mas nem nossos pais acreditavam naquilo que estavam nos dizendo. Todos se sentiam vingados.
O melhor era voltar a jogar bola na rua, olhar pra ele com um sorrisinho no canto da boca e o ver espumando como cão raivoso.

Toda rua tem um Alemão. Todo grupinho de amigos tem seus inimigos. Bairros têm rivais. Governos têm rivais, mas como o mundo dá voltas e o tempo passa, hoje sou adulto e vou ter filhos. Pra mim hoje é fácil entender o que acontecia, apesar de não concordar com as atitudes dele. Usando minha parca sabedoria sei que é bom ter calma e paciência nessas horas, afinal todos crescem um dia, né?

Estômago de Urubu

Eu realmente gostaria de entender essa disposição ou indisposição de algumas pessoas com relação à alimentação. Lá em casa, segundo a Dona Genô, eu tenho Estômago de Princesa e eu já digo que ela tem Estômago de Urubu. Acho que ela é capaz até de comer comida estragada que nem gases têm! Já eu, se algo não me cai bem, faço o maior fiasco com enxaqueca, vômitos, dores, etc. A explicação mais lógica que eu encontro é na tal vitamina "S".

Sempre fui super protegido quando pequeno. Sabe aquelas crianças que aparentam ter 50kg só de roupas? Pois é. Tinha e ainda tenho renite e bronquite alérgica, e só quem tem bronquite sabe como é. Assim sendo, nunca me deixavam ter contato com os agentes imundos da infância. Sem pé no chão, sem brincar com animais, sem comer terra ou por pedras na boca, banhos de chuva ou brincadeiras no barro. Não fui menos feliz por isso, porém acho que minha imunidade não foi fortalecida nesta época.

Já a Dona Genô não. Pelos relatos que tive da minha sogra, Dona Genô teve várias aventuras envolvendo o submundo microbiano. Não posso narrar com a devida riqueza de detalhes que merece, pois não presenciei, porém eu sei que certa vez ela acabou mergulhando involuntariamente dentro de uma caixa d'água, aquelas com água verde, cheia de larvas de mosquito (hoje isso seria um problema), e acabou bebendo bastante água. Ou então, quando dada por sumida, foi encontrada dormindo dentro do balcão, sob a pia da cozinha, agarrada firmemente a um saco de açúcar, já pela metade. Ah, e sei também que ela acabou tomando seiva de planta (aquele leitinho branco que sai de algumas plantas quando se corta) por iogurte, oferecido pelas suas (mui) amigas.

Vejam como estes fatos foram determinantes à futura imunidade. Lógico que nenhum pai ou mãe deixaria algo de ruim acontecer, pois algum acidente poderia ser fatal, mas não há necessidade de tanta preocupação, principalmente com a limpeza. Relaxe, a vida é assim. Não dá pra ficar limpando tudo a toda hora, nem mesmo ficar de olhos vidrados o tempo todo sobre o rebento. Já aprendi essa! Aos neuróticos de plantão eu digo:

- Um VIVA à vitamina "S"!

terça-feira, 6 de maio de 2008

Eu e meu negro futuro

Salve!

Sou um cara que gosta de futebol. Já pude deixar isso claro nos posts anteriores. É difícil encontrar, embora existam muitos, homens que não gostem de futebol. Por mais que não falem nada durante muito tempo, sempre berra o telefone, com alguém que você não esperava, pra tocar uma flauta. E é por futebol que hoje ando meio deprimido e já vislumbrando meu negro futuro, apesar de não torcer pelo Juventude, que foi massacrado com uma maiúscula vitória do Internacional, oito a um.

O meu futuro é negro.

O Juventude, apesar de sofrer tal humilhação, tem um bom time e um bom técnico. Não passou adiante na Copa do Brasil por detalhe e logo já estará encarando a série B, com grandes chances de retornar à elite do futebol brasileiro.

O Internacional, com um bom time, montado há muito tempo, é o grande favorito aos dois títulos nacionais este ano. Venceu o campeonato gaúcho e deve atingir, bem antes da chegada do seu centenário, a cota de 100 mil sócios, num trabalho maravilhoso iniciado por Fernando Carvalho, o maior presidente que o colorado já teve. Vencendo a Copa do Brasil já estará na Libertadores em 2009, bem cedo. Se não vencer, mole-mole consegue a vaga no Brasileirão, sem precisar ser campeão, apesar de ser o grande favorito. Assim, o ano de 2009 será insuportavelmente feliz para os colorados, principalmente se as minhas previsões para os azuis forem como imagino.

O meu futuro é negro.

Agora vamos falar do meu time, o Grêmio. Depois de perder a final da Libertadores para o Boca Juniors, ano passado, mudou O TIME INTEIRO. Perdeu os melhores jogadores que tinha, perdeu os líderes dentro e fora de campo. Montou um time medíocre, com um técnico medíocre, não contrata nenhum jogador por mais de um ano, está atolado em dívidas, onde a previsão mais otimista diz que as coisas começam a melhorar a partir de 2012, e é sério candidato ao rebaixamento em 2008, pela terceira vez. Se não for neste ano, é provável que caia no ano que vem, no centenário colorado. E o pior é que a diretoria do clube continua achando que tudo está bem. Não há esperança para torcida gremista em 2008. Foi eliminado do Campeonato Gaúcho pelo Juventude (provavelmente a goleada do Inter seria sobre o Grêmio) e eliminado da Copa do Brasil pelo Atlético-GO, um time da terceira divisão, que foi abatido na fase seguinte pelo poderoso São Caetano, da segunda divisão.

O meu futuro é negro.

O cenário atual não é bom e o projetado é pior ainda. De um lado o colorado se fortalecendo, ganhando porte, estruturado e firme, com dinheiro no bolso e grandes competições a disputar, tendo uma torcida empolgada e apaixonada dando dinheiro ao clube, é de se esperar que o Inter domine o Rio Grande durante muitos anos, já que o seu principal rival regional, o Grêmio, está fazendo exatamente o contrário. Não tem um bom time, não tem um bom técnico, não conquista a torcida e está cheio de dívidas. Vai perder espaço para os vermelhos. Por isso o meu futuro é negro.

Dona Genô é colorada e eu gremista. Durante dez ou quinze anos, a história colorada vai estar mais viva, recente, com mais títulos. Em dez ou quinze anos devemos ter adolescentes ou pré-adolescentes em casa, provavelmente fardados de vermelho. Serei o único gremista em um ninho colorado, porém o homem da casa, o pai, o chefe, "o cara", mas sempre à mercê das flautas. Não vou amá-los menos por isso, mas que o meu futuro é negro, é sim. Ou será vermelho?