segunda-feira, 7 de julho de 2008

FIREBIRD

Roberta. Sim, você conhece pelo menos uma Roberta. Morena de olhos verdes, 18 anos, cabelos ondulados. Linda. 1,79m, corpo rijo escultural coberto por uma pele macia e cheirosa. Extremamente manipuladora e envolvente. Roberta é daquelas mulheres que faz sacerdotes católicos abandonarem a batina renegando o Senhor e virando fãs de Iron Maiden, passando os últimos dias de sua vida ouvindo “The number of the Beast” o dia todo nos headfones no último volume. Ela é da pior espécie de “Roberta”: extremamente inteligente. A mulher fatal.

Era uma segunda-feira à noite. Seu primeiro dia de aula na faculdade de direito. Filha de dedicados e abastados advogados, sua última preocupação era com dinheiro, mas mesmo assim não ostentava. Usava roupas simples, tinha carro popular. Não ia a festas, não consumia drogas legais ou ilegais. Sempre estudou muito, tinha notas maravilhosas. Ajudava em casa, com os afazeres domésticos e adorava passar longos períodos com a família, seja assistindo filmes ou arrumando a casa. A filha que todo pai pediu a Deus. Sua única diversão era manipular os homens. Podemos dizer que ela se empenhava muito nisso.

Entrou na sala onde um senhor com poucos cabelos organizava uma pilha de papéis sobre uma mesa grande, em frente ao quadro negro. Era o professor da primeira cadeira. Tirando a falta, seus cabelos eram bem cuidados. A camisa estava bem passada para uma pessoa que daria aulas ou trabalhasse o dia todo. Pelo colarinho perfeitamente branco, viu que era uma camisa nova. Usava terno verde-musgo, tipo camurça. A gravata era discreta. Tinha uma vistosa aliança na mão esquerda. Aproximou-se. Perfume amadeirado.

- Boa noite, professor! – Estendeu-lhe a mão – Sou Roberta! Muito prazer!

Disse essas palavras inclinando levemente a cabeça para a esquerda. Seus olhos cintilaram ao encontrar os do professor. Gaguejando ele respondeu:

- Bo-Bo-Boa noite! Sou o professor Antunes! Seja bem vinda à minha classe. Queira sentar-se, por favor. Já vamos começar.

Ela virou-se após mostrar-lhe os dentes brancos em um iluminado sorriso. Virou-se tão rapidamente, que fez a sua leve saia rodopiar e revelar suas coxas torneadas. Antunes passou o dedo entre o colarinho da sua camisa e o pescoço. Sentiu calor.

Roberta dirigia-se a uma carteira vazia, próxima à mesa do professor. Sentia os olhares da classe a tocar seu corpo. Gostava disso. Sentou-se e puxou da pasta o caderno, o estojo com suas canetas coloridas e alguns livros. Já tinha seu primeiro alvo. O professor Antunes.

Seis meses se passaram. Antunes resistia às tentativas de Roberta, mas não era uma tarefa fácil. Ela mostrava-se cada vez mais maliciosa. Abusava dos decotes, das roupas provocantes. Lançava-lhe olhares penetrantes, fazia caras e bocas que estavam tornando a vida do calvo professor um inferno. Seu casamento não ia bem há muito tempo. Já não conversavam mais e sexo, nem pensar. Cogitava encontrar outra pessoa, mas não podia fazer isso com uma aluna. Era demais! Seguia resistindo. Seguia acreditando no seu casamento.

Roberta tinha encontrado um ótimo desafio. Antunes resistia a mais de nove meses. Era um recorde pessoal. Nunca um homem havia resistido tanto tempo. Precisava tomar atitudes drásticas. Esperou o final da aula e decidiu acompanhar o professor até o seu carro. Já era tarde e o estacionamento estava vazio e muito escuro. Entre uma parede e o Pontiac Firebird 1968, Roberta roubou-lhe um beijo. Antunes já não suportava mais tanta pressão, e acabou cedendo. Fizeram sexo ali mesmo, sobre o capo negro do reluzente Firebird. Era algo agressivo, animalesco. Terminaram arfantes. Ela escorada no veículo, ele no muro. Algo havia mudado entre os dois. Ele horrorizado, ergueu as calças e entrou correndo no veículo. Ela, com um sorriso triunfante no rosto, afastou-se enquanto ele arrancava cantando pneus. Conseguira.

Noite seguinte. Antunes estava de costas para a porta. Falava ao telefone quando Roberta chegou. Aproximou-se sorrateira para ouvir a conversa.

- Sim querida. Às quinze horas, no quarto cinco do Panteon. Use aquela vermelhinha que eu te dei, certo? Um beijo, safadinha!

Afastou-se. Ele não estava ainda a seus pés. Tinha outra! E ela precisava descobrir. Bolou mais um de seus planos maquiavélicos.

No dia seguinte, acordou cedo. Foi às compras. Adquiriu uma extraordinária lingerie vermelha. Ressaltava admiravelmente seus dotes físicos. Algo irresistível. Foi ao motel, seduziu o recepcionista e entrou no quarto número cinco. Tomou um belo banho, ligou a hidro, pôs um CD com músicas sensuais, perfumou o ambiente e aguardou. Às quinze horas e dez minutos ouviu o motor do velho Firebird parar na garagem. Ouvia beijos, murmúrios e gemidos. Estavam subindo as escadas. Era hora da festa.

Abriram a porta com um forte empurrão. Já estavam se despindo. Roberta estava no banheiro, usando apenas um sobretudo de couro sobre a roupa íntima cor de sangue. Aquela era a hora. Foi entrando no quarto, abrindo o sobretudo. Os dois já estavam na cama. Ela sobre ele, vestindo lingerie vermelha.

- Oi! Vim participar da festinha! – Disse Roberta, sorridente.

Sem entender o que ocorria, foram parando até que avistaram a moça semi-nua.

- Roberta?!?!?!?!? – Disse Antunes.

- Roberta?!?!?!?!? – Disse Cláudia.

- Mamãe?!?!?!?!? – Disse Roberta.

Nesse instante, dois homens invadem o quarto. Um deles com uma câmera fotográfica profissional, aquelas com lentes objetivas.

- Eu sabia Cláudia, sua cachorra! Roberta?!?!?!?!? O que você está fazendo aqui minha filha?!?!?!?!?

Fim de ano, férias enfim! Roberta venceu o primeiro ano da faculdade de direito. Foi a primeira da classe. Gabaritou quase todas as provas. É um gênio. A mãe, como não poderia deixar de ser, perdeu tudo no divórcio e vive hoje com o professor Antunes, que também perdeu tudo que tinha. A pedido de Roberta, o pai não processou os dois por ter tentado seduzi-la, o que poderia implicar na prisão dos dois. Ela vai aproveitar o verão com os amigos na casa da praia, com o pai, que desfila pelo litoral com um belíssimo Pontiac Firebird 1968.

Um comentário:

K disse...

Não conhecia esse seu lado senhor Astholfo.Parabéns pelo conto e lembranças à sua senhora.