quarta-feira, 2 de abril de 2008

O Churrasco

Bairrista eu? Sim, com certeza!

Pra mim, não nenhum lugar no mundo melhor que o Rio Grande! Adoro o meu estado, com suas tradições e belezas. A única coisa que o Rio Grande não tem de bom são as praias, mas aí vamos pra Santa Catarina, que é o nosso quintal. Adoro o estado de Santa Catarina, que separa o Rio Grande do resto do país. E quando dá vontade de jogar um pouquinho vamos pra Punta, que é aqui do lado também.

Essa é uma piada bairrista, muito praticada por aqui. A maioria dos gaúchos é bairrista, e sente falta daqui quando está fora. Quando vai pra outros estados, já procura informações sobre os CTG's (Centro de Tradições Gaúchas ou Centro Tradicionalista Gaúcho) espalhados pelo Brasil, e são muitos ou então nunca viaja sem antes provar um churrasco onde esteja, só pra dizer que o daqui é melhor... E isso é uma coisa interessante.

Aqui no Rio Grande, dois tipos de negócio de Churrasco se dão bem: uma grande churrascaria, com vários tipos de comidas locais e de cozinhas estrangeiras ou então os "pague-leve". Não sei como definir esse negócio, mas se resume em uma grande churrasqueira, com dez ou mais metros, contando com vários assadores, que, sob encomenda ou não, fazem os espetos pra levar. Chega o gauchão pilchado lá e diz:

- Tchê, me dá um espeto de vazio e uma costela, bem gorda e sangrando! E meia dúzia de Polar, bem gelada!

- Olha, meu amigo, eu botei a costela a pouco no fogo...

- Não tem problema! Pode ser essa!

- Ok! Mais alguma coisa? Um coraçãozinho ou uma polenta frita?

- (Silencio do Gauchão) ...

Ele paga e sai arrastando as galochas.

Esse tipo de serviço é muito bom, pra quem não gosta de fazer o churrasco. E barato, na maioria das vezes. Eles oferecem saladas, complementos e bebidas. Churrascarias medianas não têm espaço no mercado, pelo simples fato de que o gaúcho tem churrasqueira em casa! Se um dia tiver a oportunidade de passear nos bairros da capital num domingo, é só aguçar os sentidos para sentir o cheiro da carne assada e a fumaceira no ar. Tem gente dizendo que o churrasco é um dos motivos do aquecimento global. É mole?

Mas sabe tchê, que o fundamentalismo gaúcho é tão forte, que certas raízes não precisam nem ser cultivadas, pois estão tão arraigadas ao cotidiano que passam despercebidas, como o Chimarrão, ou amargo, como alguns fronteiriços gostam de chamar, mas sem chazinho na erva, que já é muita frescura também!

O porto-alegrense faz churrasco principalmente aos domingos ou sábado à noite, usa carvão e espeto de aço inox, que é melhor de lavar. Faz picanha, lingüiça, pãozinho, coraçãozinho, e outras coisas que terminam em "inho". Tem uns que fazem até bife acebolado e umas comidas estranhas na churrasqueira, mas cada um à sua moda. O gauchão da fronteira ou do interior é diferente. Ele procura um toco (resto de árvore cortada, que fica no chão) às cinco da manhã e ali monta acampamento. Junta um pouco mais de lenha e começa o fogo. A peonada, que já havia carneado o animal minutos antes, traz o Janelão (costela inteira), atravessado por espetos de ferro ou madeira, amarrado com arame, pra não cair, e escora perto do fogo, temperado só com sal grosso. Nada de ervinhas aromáticas ou salmouras com temperos! Seria uma heresia! E ali ela fica, chorando, até o meio-dia. Prato? Garfo e farinha? Não, de jeito algum! Lasqueada ou rasgada eles vão comendo a carne, macia, assada por sete, dez ou doze horas, depois da lida da manhã, sempre acompanhada pelo Amargo. Eu já tive o prazer de fazer um Janelão desses, e garanto que fica algo perto do extraordinário!

Isso sem falar das danças, das vestimentas, e demais costumes do Gaúcho, muito influenciado pela cultura espanhola, que se mantém viva até hoje nos festivais e CTG’s mundo afora (sim, mundo afora!).

Revendo as velhas e novas fotos, me acho roendo um osso de costela e bebendo chimarrão. Os novos bebês da família, todos tem uma foto com um osso ou com uma cuia na mão, sorvendo o sangue verde e quente que vem pela bomba dourada. E me lembro que reclamavam ainda se não ganhavam mais. E é assim, como enxergamos, que acredito que Genotolpho e Astolveva vão aprender, naturalmente. Vão conhecer cultura viva. Familiaridade. Identidade.

"Mostremos valor constância
Nesta ímpia injusta guerra
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra
De modelo a toda terra
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra

Mas não basta pra ser livre
Ser forte, aguerrido e bravo
Povo que não tem virtude
Acaba por ser escravo

Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra"


Um comentário:

Anônimo disse...

Altolpho, lembra à Dona Genô que quando ela estiver grávida não pode comer "sangrando", viu?