quarta-feira, 9 de abril de 2008

STOP!


Caso não saibam, eu sou filho único. É, o queridinho da mamãe e do papai. O favorito da vovó. Mas não é verdade. Meus pais nunca aliviaram a barra pra mim, e sempre tive limites impostos por eles (meus pais). Não por parte da minha vó. Sabe como é vó, né?
Desta forma, nunca fui paparicado por ser o único ou por ter algo em especial. Eu não me sentia paparicado. Eu tinha as minhas coisas, fazia meus deveres escolares, brincava. Tudo normal. Meus pais sempre rebatiam as minhas tentativas com os "Eu não gosto", "Eu não quero", "É meu", entre outras tantas manifestações do meu pueril caráter egocêntrico com atitudes. "Vai comer sim!", "Vai fazer sim!" e "Dá isso aqui agora!". Lembro de uma vez que inventei de chamar minha mãe de boba.

- BOBA! - Disse choramingando.

Esse xingamento é tão banal hoje em dia que é até brincadeira... "Seu bobo!" ou "Bobinho!", mas eu com três ou quatro anos levei um tapa na cara. Calma, não fui espancado! Doeu psicologicamente, não fisicamente. Nunca mais me aventurei a fazer esse tipo de coisa, mas ajudou a domar o meu instinto expansionista, de me tornar o supremo monarca mirim do lar. Limites. Uns com tanto outros com tão pouco. Qual o limite? Qual a dose correta?

No mesmo terreno onde morava, vivam a família de um tio, irmão do meu pai, com seus dois filhos, e meus avós paternos. Sempre brincávamos juntos, no pátio, como os Backyardigans, eu e o meu primo. Ele esbelto, bonito. Jogava bola, corria muito pela rua, sempre vencia a maioria das brincadeiras de pega-pega e esconde-esconde. E eu, o gordinho. Vida de gordinho não é fácil, saibam disso. E nada eram só flores e sorrisos. Nós brigávamos muito também. Ele era o mais rápido e eu o mais forte. Ele me batia e saia correndo. Eu esperava. Quando acabava por pegá-lo, sentava a mão, e ele chorava. Quem é o culpado da briga? Eu! Eu era sempre o culpado, mesmo tendo sido agredido primeiro. Em quem você iria acreditar?

O resultado da briga era sempre o mesmo. Ele amparado por todos, aos prantos, e eu de castigo no sofá da sala, pensando. Minutos depois ele aparecia na porta, sorrateiro, e me mostrava a língua. Crianças, né? Depois acabávamos brincando juntos novamente, até a próxima briga.

E foi aí que eu aprendi que sempre se paga por aquilo que se faz de errado.

Com meus dezoito ou dezenove anos, enquanto todos meus primos bebiam cerveja e falavam sobre futilidades e bobagens durante o churrasco, eu preferia me recolher. Ficava em casa, assistindo TV. A diferença entre nós já era clara naquela época. Estava no início da faculdade, já havia lido bastante a esta altura, mas não havia ninguém entre vinte ou trinta pessoas que soubesse trocar mais de cinco frases inteligentes sobre algum assunto interessante. Não que mulheres, carros e bebedeiras não sejam legais, mas não supria um nível mínimo de conversação que valesse a pena sair do reflexivo sofá da sala.

Hoje, este meu primo tem um casal de filhos, com mulheres diferentes, e enfrenta um sério problema com drogas. A irmã dele teve uma filha, abandonou um marido dedicado à família e trabalhador, de livre e espontânea vontade, e voltou a morar com os pais, pois com eles ela sabe que vai ganhar tudo o que quiser, por mais sofrida e miserável que seja a vida deles. De todos os meus primos que bebiam e falavam sobre futilidades e bobagens no churrasco, acho que só eu não tenho FILHOS e/ou PROBLEMAS COM DROGAS.

Por isso, não tentem achar que aquelas meninas que gravaram as agressões a uma colega são culpadas. São vítimas. Ou então aqueles que entram em locais públicos com armas e matam pessoas a esmo. Nem mesmo os terroristas da Al-Qaeda tem culpa. São vítimas. Vítimas de nós mesmos! Nenhuma criança nasce para o mal ou para o bem, ela é moldada à sociedade que vive, ao “modelo” mais próximo de conduta, à “vitrine” de valores mais atrativa, ao tamanho da “corda” que é dada.

Você já deve saber o que fazer quando seu filinho te chamar de bobo(a), não? Eu sei!

5 comentários:

Anônimo disse...

Amei tudo o que li...
Que atitude linda que seus pais tiveram, pois ser pais únicos, tb não é fácil... bom ler isso... Pra pensar ou repensar nas coisas que ando fazendo com a minha única bb de 4 anos...
Parabéns pelo texto.

Greice disse...

Astolpho, concordo e não concordo...
Concordo 100% quanto aos limites. É necessário e imprescindível.
Mas não acho que seja pelo tapa, pela severidade. Eu também tenho muitos casos de pessoas "problemáticas"na família, que cresceram comigo. E todos, sem exceção tiveram as rédeas curtas a vida toda. Apanharam, ficaram muito de castigo. O que faltou foi compreensão, foi carinho, foi amor mesmo na minha opinião.
Não sabia como eu reagiria quando tivesse que educar alguém. Mesmo com a Mari bebê ainda tinha minhas dúvidas, e hoje não tenho mais. Jamais daria um tapa na cara de um filho, e não sei se perdoaria se minha mãe o fizesse...
sabe aquela "máxima" espírita, que as pessoas evoluem ou pelo amor ou pela dor? pois é, por aí...

beijos!!!

Anônimo disse...

Olha, eu levei muitos tapas, tapinhas e porradas na cara e na cabeça e onde pegasse. E não sei se foi isso que me deu limite não...Meu irmão tb levou tanto quanto e tem uns probleminhas bem parecidos com os do seu primo. Então acho que limite é necessário sim, mas violência não. Minha opinião sobre isso é bem punk. Acho que o limite pode ser dado de outra forma. E quanto as meninas não serem culpadas hum, não sei não...Isso ainda é meio turvo na minha cabeça. É claro que eu acho que os pais e a sociedade tem culpa, e muita sim. Mas acho que há algo da personalidade da pessoa que escapa um pouco aos ensinamentos, sei lá. Como eu disse, isso ainda não é ponto pacífico na minha cabeça, acho que as variáveis são muitas e muito grandes. Não estou dizendo que vc tá errado, só digo que eu ainda não sei o que concluir disso. Um big abraço. Boa sorte Seu Astolfo e Dona Genô.

Claudia disse...

Acho que as pessoas são fruto do ambiente em que crescem. Eu me lembro de ter levado uns tapinhas da minha mãe e nunca do meu pai e até hj tenho mais respeito por ele do que por ela. Na minha vez, nunca bati em filho, não acho legal, acho que uma boa conversa resolve, é claro que existem casos e casos, mas não acho que um tapa conserte alguma coisa. Por outro lado, acho que tudo muda depois que os filhos nascem, viu? Principalmente nossas convicções. rs Beijinhos

Anônimo disse...

Astolpho, querido, endosso o que a Greice, a Nalu e a Cláudia falaram...
Eu descobri, antes de mais nada, que não existem fórmulas e não adianta a gente ficar pensando o que vai fazer, quando, e se. Tudo depende de uma série de fatores, incluindo o contexto em que a palavra foi dita.
De todo modo, bater na minha filha, não importa a que título, é absolutamente intolerável e inaceitável. Veja, estou falando de mim - a escolha vai ser sua com seu bebê.
Acredito no amor e no respeito, sempre. A Gui é uma criança de 1 ano e 7 meses que educamos na conversa e no respeito profundo, e nunca, nunca mesmo, tivemos que erguer a voz ou dar um mísero tapinha na fralda. Mas, como disse, é convicção nossa.