quarta-feira, 30 de abril de 2008

Let it roll...

Durante a época de colégio, desenvolvi um profundo gosto por música. Entrei para as aulas de música e lá aprendi alguma coisa, mas nunca me especializei em nada. Comecei com o baixo e aos poucos fui passando pro violão mesmo. Perdi a vaga do baixo pra um amigo que, pelas últimas notícias, estava em Portugal, fazendo certo sucesso com uma banda de forró. Na bateria tocava o negão Tiago, negão mesmo, forte, grande. Levava muito jeito pra música, era multi instrumentista, tocou por algum tempo com algumas bandas gaúchas e gauchescas, não confundam, mas acabou por trabalhar com engenharia de telecomunicações. O pai dele já tinha a empresa, e pra ele ficou mais fácil. Tínhamos até um saxofonista! Ele virou professor de música. Um cara que toca sax tem que ser professor, convenhamos. Era hilário! Ele tocando e fazendo "zoínho" pras gurias... Um sarro!

Bom, eu era o que cantava "menos pior", então fiquei com guitarra base e vocal e o pior, nas duas bandas do colégio, uma de punk rock e outra de pop. Eu ia de Bascket Case do Greenday à Angra dos Reis da Legião. Até que eu fazia certo sucesso com as meninas, com um corpinho mais enxuto, um pouco mais marrento. Era só dizer as palavras certas na hora "H" que ficava tudo bem. Acabava cercado por algumas no fim das apresentações, às vezes. O auge da minha carreira como músico foi num recreio estendido, no fim do terceiro ano. E foi só.

Fim do colégio, fim da banda, fim do sonho de ser músico. Começam as responsabilidades. O vestibular, o emprego pra pagar a faculdade, uma carreira profissional. Meu primeiro sonho era ser músico, mas reconheço que não tinha talento pra tanto, e já havia me conscientizado que a era só uma febre, tinha passado. Minha segunda opção era a Química. Sonhava em ser Químico Industrial. Era a matéria que me saía melhor, a que mais gostava, por que não? Só que eu remava contra a maré. A minha família era formada por contadores e advogados. NENHUM familiar meu, que fez faculdade, fugiu disso. Muito chato! E o pior, a grande maioria funcionários públicos. Não tenho nada contra funcionários públicos, mas acho que essa vida não é pra mim. Vocês conhecem a história dos pescadores japoneses, né? Não? Pra quem não conhece, a história tá aí em baixo. Quem já conhece, pode pular!

__________________________________________________________


Os japoneses e o problema do peixe fresco

Os japoneses sempre adoraram peixe fresco. Porém, as águas perto do Japão não produzem muitos peixes há décadas. Assim, para alimentar a sua população os japoneses aumentaram o tamanho dos navios pesqueiros e começaram a pescar mais longe do que nunca. Quanto mais longe os pescadores iam, mais tempo levava para o peixe chegar. Se a viagem de volta levasse mais do que alguns dias, o peixe já não era mais fresco. Logo, os japoneses não gostaram do gosto destes peixes.

Para resolver este problema as empresas de pesca instalaram congeladores em seus barcos. Eles pescavam e congelavam os peixes em alto-mar. Os congeladores permitiram que os pesqueiros fossem mais longe e ficassem em alto mar por muito mais tempo. Os japoneses conseguiram notar a diferença entre peixe fresco e peixe congelado e, é claro, eles não gostaram do peixe congelado.

Dessa forma o peixe congelado tornou os preços mais baixos. Então, as empresas de pesca instalaram tanques de peixe nos navios pesqueiros. Eles podiam pescar e enfiar esses peixes nos tanques “como sardinhas”. Depois de certo tempo, pela falta de espaço, eles paravam de se debater, ou seja, não se moviam mais. Eles chegavam vivos, porém cansados e abatidos.

Infelizmente, os japoneses ainda podiam notar a diferença do gosto. Por não se mexerem por dias, os peixes perdiam o gosto de frescor. Os consumidores japoneses preferiam o gosto de peixe fresco e não o gosto de peixe apático.

Como os japoneses resolveram este problema? Como eles conseguiram trazer ao Japão peixes com gosto de puro frescor? Se você estivesse dando consultoria para a empresa de pesca, o que você recomendaria?

Para conservar o gosto de peixe fresco, as empresas de pesca japonesas ainda colocam os peixes dentro de tanques, nos seus barcos, mas, elas também adicionam um pequeno tubarão em cada tanque. O tubarão come alguns peixes, mas a maioria dos peixes chega “muito viva” e fresca no desembarque.

__________________________________________________________

Na minha cabeça era o fim! E olha que o meu teste vocacional apontava algo com comunicação e ensino! Acabei virando contador, depois de quase largar a faculdade no sexto semestre pra fazer pedagogia (não pelas gurias, mas pelas crianças, tá?). Sou formado em contabilidade, a pedido dos meus pais, mas sempre sonhei em fazer algo diferente. Um dia ainda vou abrir uma Pet Shop! Hehehehe!

Lembrando da minha história, e pensando bem no futuro, acredito que não vou ser um pai como o meu, apesar de saber que ele só queria o meu bem. Por mais difícil que possa ser o futuro profissional dos meus filhos, não vou criá-los à nossa imagem. Adoraria ver algo diferente, deixar a cabecinha deles rodar e imaginar o futuro, como faço agora. Minha preocupação é criá-los para o bem e deixá-los pensar em algo novo e diferente.

Tá bom que o quarto deles vai ter tema musical, que eles vão ganhar instrumentos musicais e fazer aulas de música na escolinha, não custa tentar, né? Vai que eu não descubro um gêniozinho dentro de casa? Posso virar um futuro empresário do ramo musical...


quinta-feira, 24 de abril de 2008

Perseverança é coisa de padre?

Perseverança. Sempre me falavam esta palavra durante as catequeses, nas missas, nas palestras, mas eu, no ápice da minha aborrecência não tinha noção da importância desta palavra. Apesar da sua aparência pacífica, bíblica, perseverança é uma palavra de muita força. Denota fortaleza, constância. Esperança e perseverança são foneticamente parecidas, completamente diferentes em sentido e atividade, porém complementares. A esperança sozinha é estática, passiva, não faz a diferença. A perseverança sem a esperança não faz sentido. Lutar, resistir, prosseguir, mas pra onde? Por quê?

Eu falo da esperança não no sentido religioso, não confundam com fé religiosa, mas a esperança de algo novo, melhor, diferente. Um novo carro, uma nova casa, um novo amor. Não vamos conseguir trocar de carro se não trabalharmos duro pra isso. Não vamos ter uma nova casa se não nos esforçarmos para conter as despesas domésticas. Não vamos ter um novo amor se não seguirmos procurando. Esta força, de recomeçar todos os dias, de reiniciar é a perseverança. A luta com esperança.

Hoje pela manhã me peguei pensando nisso. Desde quando paramos de usar a perseverança no nosso vocabulário? Por que só ouvimos isso de padres, hoje em dia? Será que simplesmente mudamos o nome ou jogamos a responsabilidade pra Deus? Deixamos de lutar por nós e passamos a esperar a ajuda do Silvio Santos ou do Faustão? Nosso conflito é de fé ou comodismo? O nosso problema é só do Governo ou também da nossa bunda grudada no sofá?

Eu já tenho as minhas respostas. Decidi reintegrar a perseverança ao vocabulário. Neste pequeno texto eu usei dez vezes a perseverança. Não vou deixar que padres me digam para ser perseverante. Eu sou perseverante. Vou fazer diferente e fazer a diferença. Posso contar com você?

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Tudo termina como começou

Eu a Dona Genô discutimos bastante, mas não necessariamente brigamos sempre. Ambos temos comportamentos diferentes e reagimos de várias formas às peripécias da vida conjugal. Somos normais.


Dentro da nossa normalidade, conseguimos viver bem, sem os luxos que muitas vezes desejamos, mas com certeza, melhor do que muitas famílias brasileiras, pra não dizer a grande maioria. Neste momento, estamos nos programando, depois de muito conversar e planejar, a ter o nosso primeiro filho. Pretendemos dois, mas como o primeiro carro ou a primeira casa, o difícil é começar. Muitos dizem que pensamos demais, que o melhor é deixar acontecer, outros nos apóiam, concordando e reafirmando nossas principais convicções. Acho que esse amadurecimento vai me fazer um pai melhor, e principalmente um marido melhor.


Amo a idéia de termos nossos filhos, de passar noites acordado, sofrer na primeira injeção ou machucadinho, passear no parque, brincar com os cachorros, mas nunca tirei da cabeça a idéia de que criamos os filhos para o mundo. Com o tempo, eles vão criando asas e é impossível prende-los. E não é esta a minha intenção. Eles serão, para sempre, as coisinhas mais importantes pra mim, mas não antes dela.


Estamos batalhando e vamos continuar pelejando até que desenvolvam, até que tenham suas asas formadas, que tenham perdido o medo de voar, mas o que resta depois disso? Tudo termina como começou.


Seremos só nós dois, novamente. Discutindo e brigando, dentro da nossa normalidade, mas sempre nos amando.

TE AMO GENÔ!


terça-feira, 15 de abril de 2008

Bergamotas ao Sol

E o frio chegou a Porto Alegre... Ah, que bom...

O clima de hoje, agora à tarde, está como eu gosto, frio, entre 15 e 18ºC, muito sol e céu limpo, azul. Hoje é o legitimo dia que o gaúcho gosta pra comer bergamota (de preferência a Ponkan) ao sol, na praça. E se o clima ficar bom assim até o fim de semana, pode ter certeza de que a Redenção e o Gasômetro vão estar abarrotados de gente tomando chimarrão.

Eu, até a adolescência não tinha noção do que tinha de interessante sentar em baixo de uma árvore, ao sol, e ficar com as mãos fedendo a bergamota. Ou então fazer uma roda de cadeiras ao redor do fogão a lenha, cedo pela manhã, bebendo chimarrão. Sabe como é adolescente, não? Irritadiços, apressados, impacientes, incompreendidos. Eu via meus pais, meus avós, meus tios no entorno do fogão, no frio. Podia-se ver a geada cobrindo o gramado em frente a casa, pela velha janela da cozinha, e eles jogando conversa fora e falando bobagens, mas não entendia o quão valoroso era aquilo.

Eles passavam horas e horas a fio lembrando histórias de parentes antigos, vindos Itália, ou lembrando “causos” engraçados, onde inclusive eu participei como protagonista, como o a história da fuga do bezerro, ou ainda lamentando a ausência daqueles que se foram. Era a história da minha família que desfilava pelos meus ouvidos inaptos, e eu não valorizava. Hoje sou o primeiro a puxar uma cadeira.

Parece bobagem agora, lembrar de tantas baboseiras que disse e todas as afrontas que fiz aos meus velhinhos. E eles entenderam, sem mágoas, pois já passaram por isso há algum tempo e tem o mesmo entendimento que estou tendo há poucos anos, mas a verdade é que, quem mais perde é aquele que não dedica seu tempo a escutar e entender aquelas histórias, que são contadas com tanto carinho e emoção por eles que, no alto de sua sabedoria, apenas riam da nossa rebeldia juvenil. Meu saudoso avô, o "Lhô-lhô", como eu o chamava, que o diga. Um dia hei de ouvi-las novamente.

Não sou o Pedro Bial, mas se eu pudesse dar uma dica pro futuro seria, respeite os mais velhos, pois eles provavelmente terão uma antiga resposta para novos problemas. Aproveite a vida da melhor forma possível e nunca perca a oportunidade de entrar numa roda de chimarrão ou de comer bergamotas ao sol, afinal, ficar fedendo à bergamota faz bem à memória.



quinta-feira, 10 de abril de 2008

Complete com V ou F:

Eu simplesmente ODIAVA as provas de história com "V ou F" ou então as de marcar "X". Era uma prova de decoreba pura. Bastava memorizar os principais fatos e arriscar. 50% de chance pra cada questão. Muita gente se dava bem pra caramba neste tipo de prova, pois eram muitas questões de pouco valor.

Certo dia, este professor, que era menosprezado pelos alunos, chegou para aplicar a prova, mas uma nova proposta. Cinco questões dissertativas. Causou pavor total na sala, mas sobre protestos ele aplicou o teste. Foi uma verdadeira chuva de notas vermelhas e ZEROS. Este professor acabou afastado pela direção no ano seguinte. Por quê? Conflito de interesses.

O professor aplicara a prova tentando extrair opiniões dos alunos sobre os fatos e a escola queria continuar extraindo dinheiro dos pais dos alunos. O ensino era muito bom lá, só este fato foi ruim.

Quanto a mim? Tirei um valoroso 7,5 nesta avaliação, com direito a notas quebradinhas pra cada questão, com comentários do professor em toda a prova, com sua caneta vermelha, concordando ou discordando da minha posição, o que me deixou bastante orgulhoso. Não pela nota, mas por ter chamado a atenção do professor.

Por isso gosto muito de ouvir a opinião das pessoas em assuntos polêmicos, adoro uma discussão civilizada. Um posicionamento frente a um tema delicado reflete traços importantes de personalidade. Não basta dizer sim ou não, ou concordo ou não concordo. O principal é o porquê!

Sobre o post anterior, com certeza, bater não resolve nada se você não souber educar com amor, mas também educar só com amor não dá. Sou a favor de palmadas disciplinares, não espancamentos. Acho que meus pais agiram certo, mas esta foi a minha experiência. Tudo tem mais de um ponto de vista. Conheço pessoas que nunca levantaram a mão para um filho, e que hoje tentam administrar um verdadeiro caos doméstico, por conta indisciplina e das irresponsabilidades de seus adolescentes. Mas, vai saber, né?

Obrigado por acessarem e entrarem em discussão. Ninguém perde, todos nós só ganhamos!



All that is necessary for the triumph of evil is that good men do nothing.
Edmund Burke

quarta-feira, 9 de abril de 2008

STOP!


Caso não saibam, eu sou filho único. É, o queridinho da mamãe e do papai. O favorito da vovó. Mas não é verdade. Meus pais nunca aliviaram a barra pra mim, e sempre tive limites impostos por eles (meus pais). Não por parte da minha vó. Sabe como é vó, né?
Desta forma, nunca fui paparicado por ser o único ou por ter algo em especial. Eu não me sentia paparicado. Eu tinha as minhas coisas, fazia meus deveres escolares, brincava. Tudo normal. Meus pais sempre rebatiam as minhas tentativas com os "Eu não gosto", "Eu não quero", "É meu", entre outras tantas manifestações do meu pueril caráter egocêntrico com atitudes. "Vai comer sim!", "Vai fazer sim!" e "Dá isso aqui agora!". Lembro de uma vez que inventei de chamar minha mãe de boba.

- BOBA! - Disse choramingando.

Esse xingamento é tão banal hoje em dia que é até brincadeira... "Seu bobo!" ou "Bobinho!", mas eu com três ou quatro anos levei um tapa na cara. Calma, não fui espancado! Doeu psicologicamente, não fisicamente. Nunca mais me aventurei a fazer esse tipo de coisa, mas ajudou a domar o meu instinto expansionista, de me tornar o supremo monarca mirim do lar. Limites. Uns com tanto outros com tão pouco. Qual o limite? Qual a dose correta?

No mesmo terreno onde morava, vivam a família de um tio, irmão do meu pai, com seus dois filhos, e meus avós paternos. Sempre brincávamos juntos, no pátio, como os Backyardigans, eu e o meu primo. Ele esbelto, bonito. Jogava bola, corria muito pela rua, sempre vencia a maioria das brincadeiras de pega-pega e esconde-esconde. E eu, o gordinho. Vida de gordinho não é fácil, saibam disso. E nada eram só flores e sorrisos. Nós brigávamos muito também. Ele era o mais rápido e eu o mais forte. Ele me batia e saia correndo. Eu esperava. Quando acabava por pegá-lo, sentava a mão, e ele chorava. Quem é o culpado da briga? Eu! Eu era sempre o culpado, mesmo tendo sido agredido primeiro. Em quem você iria acreditar?

O resultado da briga era sempre o mesmo. Ele amparado por todos, aos prantos, e eu de castigo no sofá da sala, pensando. Minutos depois ele aparecia na porta, sorrateiro, e me mostrava a língua. Crianças, né? Depois acabávamos brincando juntos novamente, até a próxima briga.

E foi aí que eu aprendi que sempre se paga por aquilo que se faz de errado.

Com meus dezoito ou dezenove anos, enquanto todos meus primos bebiam cerveja e falavam sobre futilidades e bobagens durante o churrasco, eu preferia me recolher. Ficava em casa, assistindo TV. A diferença entre nós já era clara naquela época. Estava no início da faculdade, já havia lido bastante a esta altura, mas não havia ninguém entre vinte ou trinta pessoas que soubesse trocar mais de cinco frases inteligentes sobre algum assunto interessante. Não que mulheres, carros e bebedeiras não sejam legais, mas não supria um nível mínimo de conversação que valesse a pena sair do reflexivo sofá da sala.

Hoje, este meu primo tem um casal de filhos, com mulheres diferentes, e enfrenta um sério problema com drogas. A irmã dele teve uma filha, abandonou um marido dedicado à família e trabalhador, de livre e espontânea vontade, e voltou a morar com os pais, pois com eles ela sabe que vai ganhar tudo o que quiser, por mais sofrida e miserável que seja a vida deles. De todos os meus primos que bebiam e falavam sobre futilidades e bobagens no churrasco, acho que só eu não tenho FILHOS e/ou PROBLEMAS COM DROGAS.

Por isso, não tentem achar que aquelas meninas que gravaram as agressões a uma colega são culpadas. São vítimas. Ou então aqueles que entram em locais públicos com armas e matam pessoas a esmo. Nem mesmo os terroristas da Al-Qaeda tem culpa. São vítimas. Vítimas de nós mesmos! Nenhuma criança nasce para o mal ou para o bem, ela é moldada à sociedade que vive, ao “modelo” mais próximo de conduta, à “vitrine” de valores mais atrativa, ao tamanho da “corda” que é dada.

Você já deve saber o que fazer quando seu filinho te chamar de bobo(a), não? Eu sei!

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Relativamente falando

Não sou uma pessoa muito teórica, daquelas que tem uma explicação pra tudo na ponta da língua ou usa ao pé da letra. Sempre fui dotado de muita imaginação e invencionismo (sinceramente, não sei onde o "invencionismo" ajuda muito, mas...), o que me faz sempre abstrair das questões e adotar a subjetividade. "SE" isso "SE" aquilo. Não ser "enraizado" facilita a vida, é como estar sempre vendo as coisas de fora, de outro ângulo, ou "fora do quadrado", como sempre dizia um gerente que tive como chefe. Analisar a situação antes de reagir, quando possível. É lógico, ou não? Sei lá!

Pensar sempre fez bem ao homem, mas requer um tanto de autocontrole e autoconhecimento, pra não ficar sempre pirando na batatinha. Não adianta dar um livro de poesias do século XV pra uma criança, ou pré-adolescente ou adolescente de 13 anos que ele vai rir na sua cara ou ficar repetindo frases soltas pelo ar, se achando "o cara" com ar de intelectual.

Mas, por mais subjetivo que se possa ser, alguns conceitos deve-se saber, tais como saber como funciona o fenômeno da Tensão Superficial, a regra da crase, saber porquê não devemos misturar ácido sulfúrico com açúcar ou chumbo no ácido clorídrico, ou separar o lixo seco ou usar com inteligência a água da torneira, a regra da Dona Inércia ou então, a mais importante delas, a Teoria Especial da Relatividade.

Vinte minutos de sono duram menos que vinte minutos na cadeira do dentista? Não, são vinte minutos, mas é relativo. Vinte minutos no colo da pessoa amada passam mais rápido que vinte minutos numa aula de aeróbica? Quanto tempo são cinco minutos num formigueiro? Ou na piscina do clube, num dia de calor? É tudo relativo!

Ou então, o que são três meses pra quem sonha por muitos anos? Ah, são noventa dias, alguém pode dizer, mas é muito tempo! Demora demais pra passar! Dia após dia, pensando, imaginando, sonhando com um bebezinho chorando nas madrugadas, todo emporcalhado ou com fome, ou correndo pela casa, ou dando risadinhas gostosas. Acho que só aí poderei explorar todo o meu potencial invencionista, relativamente, é claro.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Simbolismos

Ontem tivemos mais um ato simbólico do início da nossa carreira como pais. Compramos um bodyzinho branco, de 0 a 3 meses, com uns bichinhos bem bonitinhos... Aquilo foi mais uma confirmação do nosso compromisso, como casal. Foi beeem legal.

Aliás, já decidimos sobre a decoração do quartinho. Vai ser com tema musical, e a parede vai ser em tom de palha. Neutro, unisex, e simples. É muito estranho pensar nisso... Parecia tão ilusório, imaginário, intangível há algum tempo atrás, mas tá virando realidade...

ATENÇÃO ÀS MOTHERNS DE PLANTÃO:

Estamos aceitando indicações de "acessórios" e itens de bebês, bem como sugestões de decoração com tema musical.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

O Churrasco

Bairrista eu? Sim, com certeza!

Pra mim, não nenhum lugar no mundo melhor que o Rio Grande! Adoro o meu estado, com suas tradições e belezas. A única coisa que o Rio Grande não tem de bom são as praias, mas aí vamos pra Santa Catarina, que é o nosso quintal. Adoro o estado de Santa Catarina, que separa o Rio Grande do resto do país. E quando dá vontade de jogar um pouquinho vamos pra Punta, que é aqui do lado também.

Essa é uma piada bairrista, muito praticada por aqui. A maioria dos gaúchos é bairrista, e sente falta daqui quando está fora. Quando vai pra outros estados, já procura informações sobre os CTG's (Centro de Tradições Gaúchas ou Centro Tradicionalista Gaúcho) espalhados pelo Brasil, e são muitos ou então nunca viaja sem antes provar um churrasco onde esteja, só pra dizer que o daqui é melhor... E isso é uma coisa interessante.

Aqui no Rio Grande, dois tipos de negócio de Churrasco se dão bem: uma grande churrascaria, com vários tipos de comidas locais e de cozinhas estrangeiras ou então os "pague-leve". Não sei como definir esse negócio, mas se resume em uma grande churrasqueira, com dez ou mais metros, contando com vários assadores, que, sob encomenda ou não, fazem os espetos pra levar. Chega o gauchão pilchado lá e diz:

- Tchê, me dá um espeto de vazio e uma costela, bem gorda e sangrando! E meia dúzia de Polar, bem gelada!

- Olha, meu amigo, eu botei a costela a pouco no fogo...

- Não tem problema! Pode ser essa!

- Ok! Mais alguma coisa? Um coraçãozinho ou uma polenta frita?

- (Silencio do Gauchão) ...

Ele paga e sai arrastando as galochas.

Esse tipo de serviço é muito bom, pra quem não gosta de fazer o churrasco. E barato, na maioria das vezes. Eles oferecem saladas, complementos e bebidas. Churrascarias medianas não têm espaço no mercado, pelo simples fato de que o gaúcho tem churrasqueira em casa! Se um dia tiver a oportunidade de passear nos bairros da capital num domingo, é só aguçar os sentidos para sentir o cheiro da carne assada e a fumaceira no ar. Tem gente dizendo que o churrasco é um dos motivos do aquecimento global. É mole?

Mas sabe tchê, que o fundamentalismo gaúcho é tão forte, que certas raízes não precisam nem ser cultivadas, pois estão tão arraigadas ao cotidiano que passam despercebidas, como o Chimarrão, ou amargo, como alguns fronteiriços gostam de chamar, mas sem chazinho na erva, que já é muita frescura também!

O porto-alegrense faz churrasco principalmente aos domingos ou sábado à noite, usa carvão e espeto de aço inox, que é melhor de lavar. Faz picanha, lingüiça, pãozinho, coraçãozinho, e outras coisas que terminam em "inho". Tem uns que fazem até bife acebolado e umas comidas estranhas na churrasqueira, mas cada um à sua moda. O gauchão da fronteira ou do interior é diferente. Ele procura um toco (resto de árvore cortada, que fica no chão) às cinco da manhã e ali monta acampamento. Junta um pouco mais de lenha e começa o fogo. A peonada, que já havia carneado o animal minutos antes, traz o Janelão (costela inteira), atravessado por espetos de ferro ou madeira, amarrado com arame, pra não cair, e escora perto do fogo, temperado só com sal grosso. Nada de ervinhas aromáticas ou salmouras com temperos! Seria uma heresia! E ali ela fica, chorando, até o meio-dia. Prato? Garfo e farinha? Não, de jeito algum! Lasqueada ou rasgada eles vão comendo a carne, macia, assada por sete, dez ou doze horas, depois da lida da manhã, sempre acompanhada pelo Amargo. Eu já tive o prazer de fazer um Janelão desses, e garanto que fica algo perto do extraordinário!

Isso sem falar das danças, das vestimentas, e demais costumes do Gaúcho, muito influenciado pela cultura espanhola, que se mantém viva até hoje nos festivais e CTG’s mundo afora (sim, mundo afora!).

Revendo as velhas e novas fotos, me acho roendo um osso de costela e bebendo chimarrão. Os novos bebês da família, todos tem uma foto com um osso ou com uma cuia na mão, sorvendo o sangue verde e quente que vem pela bomba dourada. E me lembro que reclamavam ainda se não ganhavam mais. E é assim, como enxergamos, que acredito que Genotolpho e Astolveva vão aprender, naturalmente. Vão conhecer cultura viva. Familiaridade. Identidade.

"Mostremos valor constância
Nesta ímpia injusta guerra
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra
De modelo a toda terra
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra

Mas não basta pra ser livre
Ser forte, aguerrido e bravo
Povo que não tem virtude
Acaba por ser escravo

Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra"