segunda-feira, 3 de março de 2008

AVÓS

Eu amo meus avós! Tenho um carinho muito grande por eles, gosto de ouvir as histórias do passado, um passado muito distante, onde as coisas eram resolvidas na palavra ou na ponta da faca. Uma época de corajosos. Meus avós maternos são vivos ainda, graças a Deus. Eles moram no interior do estado, tem um sítio. Fora as doenças da idade, eles estão muito bem. Já por parte de pai, a situação é um pouco diferente. Só minha vó é viva. Ela hoje mora na praia com um novo companheiro, e leva a vida que sempre quiz. O que ambos tem em comum? Força.
No interior, quanto mais filhos, mais mão de obra pra lavoura. Meus avós criaram muitos filhos e perderam um, num acidente doméstico muito trágico que não convém narrar aqui. Imaginem cuidar de tantos filhos no interior, onde ônibus era caro e raro? A cidade ficava a quilômetros de onde moravam. São heróis! Meus heróis!
Já na cidade, a vida era diferente. Minha vó teve quatro filhos homens. Trabalhava de cozinheira na Varig, esse é o único emprego que eu tenho registro na minha cabeça, mas ela já fez de tudo, trabalhava inclusive de faxineira, se não me engano... Meu avô biológico bebia muito, a traia, a batia muito e não contribuia com nada para o sustento da casa. Ficava tudo sob a responsabilidade da minha vó. Certo dia ela chegou em casa mais cedo e encontrou o sem vergonha na cama dela com outra mulher. Ela o expulsou de casa. Sozinha, com quatro filhos pra criar ela seguiu. Encontrou outra pessoa, que veio morar com ela, e junto trouxe dois filhos homens. Juntos criaram os seis rapazes. Um deles inclusive faleceu num acidente de moto, no ano do meu nascimento, e meu nome é uma homenagem a ele. Este novo companheiro também bebia, fumava e batia muito nela. Este último fato eu fiquei sabendo depois de grande, já adolescente. Meu avô de criação era muito calmo, amoroso e atencioso. Sempre pescávamos juntos. Mas um dia ele adoeceu seriamente. Teve um aneurisma que comprometeu muito sua saúde. Por coincidência ou destino, meu avô biológico também tombou doente, com um sério AVC. Na semana da Páscoa, os dois faleceram. Se pra mim a dor foi imensa, imagino a que ela sentiu, pois o tempo cura feridas, apesar de deixar cicatrizes. Ela os amava ainda, da sua forma. O tempo passou, como sempre, e mais uma pessoa apareceu na vida dela, disposto a dar carinho para uma alma cansada de sofrer. Era um homem mais novo, que causou a ira de alguns dos filhos, que aos poucos foram amansando, pois reconheceram que, apesar de filhos, não poderiam dar todo o carinho que ela precisava. Eu também tentei participar muito da vida dela, mas a tristeza que habitava no seu coração era tamanha que ela só ansiava por morrer logo e descansar de vez. Eu não suportava tanta tristeza. Toda vez que a visitava, ao chegar em casa, eu desabava. Era muita dor. Todos estavam bem, minha vó estava feliz, sendo amparada por ele quando o destino a passou mais uma rasteira. Este homem teve um sério câncer nos intestinos, que foi visto já muito tarde. Veio a falecer dias depois. Não preciso dizer mais nada, né? Ela migrou pro litoral, como um velho animal que se afasta do bando pra morrer. Hoje ela vive lá, tentando novamente achar a felicidade à sua forma, com um outro homem. Está feliz. Ela merece. Isso que eu ainda não contei que ela era filha de um caso da mãe dela e, assim que nasceu, quase foi morta, afogada pela própria mãe. Foi salva por uma vizinha, que a criou por algum tempo. Deus sabe o quanto eu quero que ela seja feliz, se lá o que isso signifique pra ela a esta altura. Como não ter orgulho de tanta luta, de tanta força de vontade? É uma super-heroína. É difícil conter o choro ao escrever este parágrafo.
E hoje eu olho pra minha família. Vou ser pai no futuro, vou ter histórias a contar aos meus filhos, aos meus netos, se assim Deus me permitir, e vou lembrar de tudo. Este é o meu medo. O pai da Dona Genô não participa da nossa vida como eu esperava e provavelmente não participará também da vida dos nossos filhos. Que tipo de avô ele será?
Provavelmente o mesmo modelo do avô da minha esposa, que renegava filhos e netos. Eu fico triste. É só o que eu posso fazer. É uma parte da história que se perde e um laço que enfraquece, com grande probabilidade de romper. As pessoas muitas vezes não sabem a diferença que faz ter heróis e super-heróis nas suas vidas.
Por favor, me desculpem se tiver erros de português e concordância, pois eu não vou conseguir ler de novo, ou não vou publicar.

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