quarta-feira, 5 de março de 2008

Hummm...

Não posso nem sentir o cheiro! Pizza Califórnia, aquela com frutas... Hum, que delícia! Ela, tratada com indiferença ou até mesmo ódio por muitos, a mim, além do sabor, traz consigo muitas lembranças. Acho que eu beirava os dez anos. Minha madrinha morava na Julio Bocaccio, no bairro Santo Antônio. Eu dormia lá, de vez em quando, quando reuníamos os primos e/ou os amigos pra um filme com pipoca. Ela tinha videocassete! Sim, videocassete! Era um luxo só, ficar no sofá com o controle remoto. Meus pais ainda não tinham conseguido comprar um. Minha dinda ainda tinha um tapete grande na sala, daqueles bem peludos e fofos, e todos se aboletavam ali pra assistir. Quem conhece a Julio Bocaccio sabe que, pelo menos naquela época, a rua era muito tranqüila. Era uma rua larga, bem larga, toda arborizada, onde passavam poucos carros. Ela morava num condomínio de apartamentos. Era muito bonito no fim da tarde, pois os raios de sol que conseguiam vencer os prédios eram filtrados pelos plátanos na calçada, e criava um efeito muito legal de luz e sombras. Enfim, chegava a noite. E o que dar de comer a um bando de pré-adolescentes enlouquecidos na frente da TV? Pizza! Vinham de todos os sabores, mas uma nunca faltava! Qual? Califórnia! Todos eram relutantes à idéia de misturar mussarela com frutas, mas eu não me importava, pois minha dinda adorava, e eu passei a gostar. Toda vez que víamos filmes, chegava a pizza Califórnia... Eu e ela comíamos praticamente sozinhos! Era ótimo!

Certa vez, estávamos passando pela Benjamin Constant quando tomamos a Avenida São Pedro. Quando viramos à direita na avenida fui tomado por uma onda de nostalgia que me "amoleceu". Senti um misto de alegria X saudade. Logo em seguida, à esquerda, vi a antiga empresa em que meu pai trabalhava. Ele era metalúrgico. Lembrei do tempo que ele trabalhava ali, em que eu o encontrava no final do expediente. Ninguém pensava em segurança do trabalho naquela época. Eu entrava no chão de fábrica, conversava e ria bastante com os colegas dele, ele me mostrava as máquinas, o que ele fazia durante o dia e tudo mais. Era um lugar sujo e escuro, se bem me lembro. As condições eram muito precárias. Os patrões dele eram tão gananciosos que chegavam a roubar um do outro. Imagine se iriam melhorar a fábrica? Eu sei é que nós saíamos dali no fim da tarde, com o sol deitando sonolento na avenida, passávamos no boteco em que ele almoçava e comprávamos três "Xis" e um chocolate pra mim, um daqueles de barra. Pegávamos o ônibus e ao chegar em casa a mãe já estava com a mesa pronta. A primeira coisa que ela fazia era tomar o chocolate da minha mão... Humpf! Desde então, não consigo mais desvincular a Avenida São Pedro àquela época.

Não importa o que for. Comida, bebida, um lugar, uma pessoa, uma palavra, um sorriso. Momentos inesquecíveis tendem a se agarrar a alguma coisa para virem à tona, a qualquer hora. Eu tenho esses dois, principalmente, mas tenho certeza que você tem algum. Pense um pouco... O feijãozinho da mamãe também vale!

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