segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Este senhor, o meu pai...

Meu pai sempre foi um cara trabalhador. Na minha família nunca chegamos ao extremo da pobreza, mas passamos por muitas dificuldades. Ele fazia horas extras quase todo dia, era metalúrgico, pra tirar um troco a mais, e sempre que podia, trazia um agradinho pra mim. Um punhado de balas ou uma barrinha de chocolate, mas não daquelas tipo Charge ou Prestígio, e sim aqueles tabletes grandes, como aqueles de cobertura de chocolate que se compra no mercado, em pacotes de quilo. Ele vinha enrolado em papel pardo, de açougue. Essa é uma das principais lembranças que tenho dessa época. Antes disso, e estamos falando de seis ou sete anos pra trás, não tenho mais nenhuma lembrança relevante. Não sei exatamente o motivo, mas deve existir.

Este senhor, o meu pai, sempre se lamenta muito comigo, dizendo que não participou da minha infância como gostaria, pois chegava sempre cansado em casa e não tinha saco pra aturar um pentelho que queria brincar até tarde. Mas não o culpo por nada. Era preciso, mas filhos crescem uma vez só. Eu sou filho único, pra quem não sabe. Minha mãe trabalhava muito também, e pra ajudar (ou não), eu tinha minha vó, mãe deste senhor, o meu pai, por perto, pra ajudar a me estragar. Ah, vó é sempre ótimo ter por perto, mas que estraga, estraga! Minha mãe ficava louca com minhas travessuras, e eu, sempre que conseguia, corria pra baixo das asas da minha vó, que me salvava das palmadas vigorosas da gringa.

As coisas sempre mudavam de figura quando o Seu Gilberto chegava em casa. As palavras eram sempre secas e duras. Palavras de ordem, que não tinham o mínimo espaço pra retrucos. Era um misto de respeito e medo, mas assim fui crescendo e entendendo aquele modo truculento de educar. "Hay que endurecer pero sin perder la ternura jamás!". Meu pai sempre foi um cara simples, não tinha muito estudo, mas era sempre correto, justo e de coração bom. Não era um santo, assim como todos nós não somos, mas ele estava correto na maioria das vezes, como todo bom pai. Ele é meu ídolo, meu herói e assim vai ser pra sempre. Hoje fazemos muita coisa juntos, sempre que podemos.

Você sabe a diferença entre instrução e educação?

E é por isso que eu não nutro e não faço grandes projeções para o futuro dos meus filhos. Só quero ser um pai a exemplo do meu. Quero criar meus filhos para o bem.

Um comentário:

Greice disse...

Astolpho querido, tenho lido seus posts e estou adorando, assim como já comentei com a sua digníssima Genoveva. Mas este post está lindo demais!
Já tem um anjinho lá no céu dando pulinhos de ansiedade pra descer aqui e nascer logo, com pais tão lindos quanto vocês!!

beijos,